quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Mudança dos dias

A cada dia eu me sentia melhor comigo mesma, por descobrir em mim tanta
capacidade de amar, tanta alegria em simplesmente observar o
desabrochar do meu filho e o meu próprio, como mãe. Era um alumbramento
recíproco, uma paz delicada, porém, sólida, um júbilo de encontro e
ternura. Eu sempre tinha algo a lhe dizer, e nunca era demais.
A cada dia eu descubro quanto sou limitada, agora. Procuro
um carinho, uma palavra para te oferecer, mas meus lábios e minhas mãos
estão vazios.
As mágoas e os desenganos me fizeram esvaziar a fonte de nde
deveria surgir aquilo que era teu.
Eu me sento para brincar contigo em silêncio, simplesmente porque
não encontro o que dizer. Te trato com carinho e te acolho, mas raras
vezes sinto que te dou amor. Como se houvesse um movimento de atração e
repulsão, agindo e guerreando em intensidade gêmea... O que me atrai
para você também ativa minhas defesas e, claro, elas me impedem de te
ver.
Eu não queria que fosse assim. Se depender de mim, não será assim,
quando você tiver idade bastante para me recordar. Mas assim que é
agora.
Não parece, mas eu te amo. Muito. Desesperadamente. Intensamente.
Por isso as lutas. Por isso as lágrimas de agora. Por isso essa
confissão, que, talvez, um dia, possa te virar contra mim. Mas preciso
dizer que a culpa não é sua. Preciso dizer que você é a menininha mais
doce e delicada que já conheci. Preciso dizer que queria ter te
encontrado em outra ocasião, quando tivesse mais a te oferecer, além de
minhas próprias marcas e reticências.
Preciso dizer que vou trabalhar para encher minhas mãos e minha alma
para você. Preciso dizer que, para mim, a dádiva suprema, será ter a
honra de despetalar, dia após dia, testemunho a testemunho, as pétalas
da minha ternura indizível simplesmente por você existir, acima dos
nomes, dos símbolos, dos inconscientes e das marcas.
E porque o amor sempre vence no final, porque a paz é conseqüência
dos que campeiam terrenos áridos, não da inércia, é que sei que isso
será realidade, algum dia. Porém, até lá, preciso muito te pedir perdão,
minha filha, e dizer que, absolutamente, a culpa não é sua, supondo que
seja de alguém.
Que o tempo passe por nós e nos dê equilíbrio, determinação e calma;
que o amor perpasse através de nós e nos dê sabedoria e novos
horizontes.
Você acaba de acordar. Eu também acordarei um dia.