quinta-feira, 3 de junho de 2010

Lágrimas

Você é grandinha para a idade. Fica em pé e fala. Sua vozinha toma a
casa e nos toma a todos. Você enternece e cativa o mundo ao seu redor.
Fico te imaginando um dia lendo isso. Que impressões te causarão minhas
palavras?
Aqui o clima é frio. Parece que o frio às vezes tenta entrar na gente.
Sua avó acabou de ir embora. Chorou, apreçou a partida para não te ver
acordada. Ela te ama. Será que você poderá se lembrar dela? Eu não sei.
Então gostaria de registrar o amor dela por você; o carinho
indescritível dela por você. Que a sombra dos desentendimentos entre mim
e ela não paire agora. Apenas a lembrança, um registro, lágrimas dela
e minhas, numa procura que jamais foi encontro de verdade.
Hoje, agora, Mariles, , ainda nos sinto tão cúmplices! Como se os ecos do
útero e da placenta que nos uniu ainda reverberasse em nossas paredes
psíquicas. Temo que um dia estejamos separadas assim.
Há muito desisti de julgar. Apenas sinto, e nem sempre o que sinto é
bom. Você está doente, e, hoje, agora, não sinto um futuro imediato
fácil ou risonho. Apenas rogo que permaneçamos juntas, a ponto de eu, se
filhas você tiver, poder chorar ao me despedir de minha netinha.
Em breve você fará um ano. Impressionante como o tempo passou! Os
dias te escrevem em mim, na força das suas mãos, no afeto gratuito que
nos une. Seu amor ainda me impressiona, como se fosse o presente mais
desejado e menos esperado de todos os tempos.
Hoje, agora, apesar das lágrimas, apesar de você adormecida no
bercinho sem diagnóstico preciso e com uma anemia que não cede, eu estou
feliz. Porque essa história realmente aconteceu. Porque o amor fez rir e
fez chorar. Porque você nasceu, saiu de mim para o mundo, e é capaz de
inspirar amor e ternura nas outras pessoas.

Eu te amo... E enquanto o futuro é mistério e o presente é nebuloso, a
sua mera existência é pura dádiva.