Estou grávida, e a vida latente que se desenvolve em mim é a tua própria
vida em botão. Tento te sentir através de mim, perceber seus traços de
alguma forma. Só consigo apreender muita força interior e vontade de
viver. Essas características são de certo modo neutras, mas é algo
encantador te redescobrir através do mundo acuoso de expectativas que
ora nos separa.
Estar grávida de você traz poucas alegrias, para além da ventura
indizível de te gestar. Tem sido uma gravidez fisicamente muito
exigente, exaustiva, até; agora mesmo, estou com uma gripe que me faz
buscar horas mais calmas para poder deitar. Essa noite perdi o sono
quase que por completo, e embora tenha ocupado a mente com divagações
sobre como será ter você finalmente ao meu lado, estou fisicamente
exausta...
Por isso é que cada dia tem o sabor de uma vitória, de passos árduos
de um caminho a duras penas trilhado, rumo ao nosso encontro ou
reencontro. E também por isso que hoje, apesar de ter sido tão difícil
em certos modos, foi um dia feliz: hoje faz seis meses que você está
aqui. Três meses nos separam da nossa primeira caminhada ativa juntas,
do momento em que uniremos nossas forças para nos tocar, pele contra
pele, num amplexo de ternura que me emociona apenas em pensá-lo. Seis
meses e vinte e sete semanas em que estivemos unidas, umbigo a
umbiguinho, e em que você apreendeu, de certo modo, minhas emoções
contraditórias e a aluvião crescente de meu amor.
Quero, assim, ratificar mais uma vez quanto você é bem-vinda; que o
desconforto da sua prenhez é gota d'água perante a alegria de ter você
ingressando em nossa familinha.
Lentamente aproximamo-nos, juntas, da reta final e uma vez mais,
permita-me sussurrar: seja bem-vinda, Mariles Estela.
P.S.: para seu irmão você agora é Maíse e, eventualmente, Masila.